Brazil Brief | Brasil no radar: o que os investidores estrangeiros esperam do país
Em um cenário global marcado por incertezas geopolíticas, guerra comercial e crescente protecionismo, o Brasil tem atraído a atenção de investidores estrangeiros com apetite de longo prazo. Com setores estratégicos como agronegócio, mineração e tecnologia ainda em alta, o país combina uma base de consumidores robusta, regulação mais estável e experiência em navegar em cenários voláteis. Nesta entrevista, Camila Lefèvre, sócia da área Societária e de M&A do Vieira Rezende, analisa como o capital internacional tem reagido às mudanças no comércio global, o que esperar do Brasil e quais recomendações são essenciais para empresas nacionais que buscam se preparar melhor para receber esses recursos.
Quais setores da economia brasileira estão mais abertos e promissores para os investidores estrangeiros neste cenário de guerra comercial?
Setores ligados à cadeia do agronegócio seguem muito atrativos — especialmente logística, serviços e fornecedores. O acesso direto à terra ainda é restrito para estrangeiros, mas há alternativas jurídicas possíveis. Além disso, mineração é um setor estratégico, com destaque para as reservas de minerais críticos e terras raras. O Brasil conta com um marco regulatório consolidado, o que garante mais segurança jurídica em comparação com outros países. E não podemos esquecer do nosso mercado consumidor, que é expressivo e tem potencial de crescimento. Setores como tecnologia voltada para serviços também estão no radar de investidores.
Como os investidores estrangeiros têm reagido às incertezas do cenário global?
Estamos vivendo um momento de cautela. A guerra comercial e as incertezas políticas geraram uma espécie de compasso de espera, especialmente no mercado de fusões e aquisições (M&A). No entanto, o Brasil continua no mapa — temos um ambiente regulatório razoavelmente estável em muitos setores e uma capacidade reconhecida de adaptação. Enquanto investidores de perfil mais conservador evitam emergentes neste momento, outros enxergam justamente aí uma vantagem: o Brasil sabe navegar na incerteza. Isso nos dá um diferencial competitivo.
E quais são as principais expectativas desses players estrangeiros ao analisar o Brasil como destino para seus investimentos?
O perfil do investidor faz toda a diferença. Fundos mais estratégicos e de longo prazo continuam vendo oportunidades no país, especialmente em áreas ligadas à sustentabilidade. Por outro lado, investidores de private equity têm sido mais cautelosos neste momento. No geral, há expectativa por diversificação, retorno sustentável e investimentos em setores com impacto positivo. A atratividade do Brasil depende da estabilidade regulatória e da clareza de retorno no médio e longo prazo.
Que recomendações você daria para empresas brasileiras que desejam se preparar melhor para atrair investidores internacionais?
Governança é o ponto central. Ter estruturas sólidas de compliance e governança corporativa reduz riscos percebidos e torna a empresa mais atraente. Em tempos de incerteza, isso se torna ainda mais essencial. É preciso estar preparado tanto para receber o capital quanto para expandir internacionalmente. As empresas que investirem em transparência, boas práticas e estruturação institucional certamente sairão na frente.
O Brasil pode se beneficiar da reconfiguração das alianças comerciais globais?
Sim, esse novo cenário abre espaço para o Brasil fortalecer laços com outros parceiros comerciais. Um exemplo importante é o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Embora já tenha sido negociado, o tratado ainda enfrenta algumas resistências, principalmente por parte de países europeus. O governo brasileiro tem se mobilizado para destravar o processo. Caso o acordo seja efetivado, há expectativa de que ele contribua significativamente para a atração de novos investimentos estrangeiros no Brasil.
Autora: Camila Borba Lefèvre | Sócia