Finanças verdes: por que investir no Brasil?
Com a crescente demanda global por investimentos alinhados à transição climática e ao desenvolvimento sustentável, o Brasil tem se consolidado como uma das principais apostas entre os mercados emergentes. Com uma matriz energética limpa, biodiversidade incomparável e instrumentos financeiros em constante evolução, o país oferece um ecossistema propício à expansão das finanças verdes.
Para entender melhor o cenário atual e as perspectivas para o financiamento verde no Brasil, conversamos com Roberto Vianna, sócio da área Bancário & Financeira do Vieira Rezende, que compartilhou sua visão sobre os instrumentos disponíveis, os setores mais promissores e as vantagens competitivas que posicionam o país como um destino estratégico para investidores internacionais — especialmente em um ano que será marcado pela realização da Conferência do Clima (COP30) na Amazônia.
1. Qual é o panorama atual das finanças verdes no Brasil, especialmente no que diz respeito às opções de financiamento disponíveis?
Hoje, o Brasil se posiciona na vanguarda da economia sustentável. O país se destaca como um verdadeiro celeiro de oportunidades para financiamentos verdes devido a uma combinação de fatores que sejam talvez únicos no mundo, como uma imensa biodiversidade, um mercado de crédito maduro e robusto e, claro, uma matriz energética majoritariamente limpa. Temos uma ampla diversidade de instrumentos financeiros para investimentos em projetos sustentáveis. O BNDES, maior financiador de longo prazo do país nessa área, oferece linhas específicas para iniciativas verdes, com condições diferenciadas de crédito. Também vale destacar o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (o chamado “Fundo Clima”), que apoia projetos com foco ambiental. O fundo é gerido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com apoio técnico do BNDES, que opera a linha reembolsável (com financiamento) do fundo em parceria com bancos públicos, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, e, desde 2022, bancos privados.
Entre os mecanismos disponíveis no mercado de capitais, as debêntures incentivadas oferecem benefícios fiscais a investidores em projetos considerados prioritários pelo governo, especialmente os voltados à transição energética, como usinas solares e parques eólicos. Já os green bonds — títulos que exigem certificação externa de sustentabilidade — representam uma opção possível, mas vêm sendo menos utilizados devido ao custo adicional associado à obtenção dessas certificações, que nem sempre se traduz em vantagens concretas para os emissores.
Outras formas de financiamento, como estruturas de blended finance (que combinam capital filantrópico e comercial) e o crédito via cooperativas, têm ganhado espaço, especialmente entre pequenos e médios empreendedores. Um bom exemplo é o programa EcoInvest, que faz parte do Plano de Transformação Ecológica do Brasil e está em fase de implementação após seu primeiro leilão.
2. Quais são os setores prioritários para os investimentos sustentáveis no Brasil no futuro próximo?
Energia renovável e agronegócio, certamente, são os dois grandes pilares dos investimentos sustentáveis no Brasil. O setor energético se beneficia de uma matriz já majoritariamente limpa, com sua imensa produção hidrelétrica. Mas não é interessante ficar dependente apenas dessa fonte. Nos últimos anos, vimos um crescimento relevante nos investimentos em outros tipos de energia, em especial a solar e a eólica. Recentemente, o Brasil aprovou dois marcos regulatórios que irão desenvolver ainda mais o setor: eólica offshore e hidrogênio verde. Sem dúvidas, o país se consolida como um dos destaques da transição energética no contexto internacional.
Já no agronegócio, há uma movimentação crescente para a adoção de práticas sustentáveis, como a agricultura regenerativa e o reflorestamento. Essas iniciativas contribuem para a redução de emissões de carbono e promovem o uso eficiente da terra. Vale lembrar que o desmatamento, especialmente relacionado à pecuária, é o principal vetor de emissões no Brasil, e o mercado está se movimentando para endereçar esse problema, principalmente frente aos compromissos de descarbonização do País.
Para além desses setores e atividades, podemos listar também a área de mobilidade urbana, com sua transição para o uso de transportes públicos movidos a energia alternativa, ou o mercado regulado de crédito de carbono — instituído recentemente em lei —, que surge como uma nova fronteira para o financiamento da conservação ambiental e da economia de baixo carbono.
3. Quais vantagens competitivas o Brasil oferece no cenário global de finanças verdes? Por que investir no Brasil?
O Brasil apresenta uma combinação única de fatores que o colocam em posição estratégica entre os mercados emergentes no campo das finanças verdes. O país abriga a maior biodiversidade do mundo e detém vastos recursos naturais, em especial na região amazônica, que podem ser explorados de forma sustentável para gerar valor econômico e ambiental. Essa riqueza natural abre espaço para o desenvolvimento de mecanismos financeiros inovadores, como projetos de conservação com retorno de impacto.
Além disso, o Brasil conta com uma das matrizes energéticas mais limpas entre as grandes economias e um mercado de capitais sólido, com instrumentos de financiamentos sustentáveis já consolidados. O país também conta com bancos públicos e privados engajados na agenda verde, o que garante suporte técnico e financeiro para investidores institucionais e empreendedores locais. Essa base, aliada ao potencial regulatório em consolidação e à atenção crescente da comunidade internacional, posiciona o Brasil como destino estratégico para investimentos de impacto. Não podemos esquecer que, em novembro, vamos sediar a COP30. O evento amplia o diálogo com investidores e governos estrangeiros ao mesmo tempo em que projeta internacionalmente questões sensíveis, como o combate ao desmatamento e a proteção dos direitos dos povos originários. Para o mercado de finanças verdes, a conferência em solo amazônico reforça a imagem do Brasil como ator central na transição para uma economia global de baixo carbono.
Autor:
Roberto Vianna | Sócio